“Linguagem é um passo através do rio do tempo
que nos leva às moradas daqueles que já se foram;
Mas jamais poderá chegar lá
quem teme a água profunda.”
Poesia do linguista Vladislav Illich-Svitych, composta “originalmente” em nostrático, uma hipotética lingua pré-histórica.
Eu amo encontrar essas anotações de aula soltas no meio dos meus papéis. São pequenos oráculos que fui deixando pelo caminho para serem redescobertos no futuro. Essa anotação que acabei de reencontrar me chega num momento especial. Ela diz:
Potemos tis hemin esti diabateos
E a gente traduz por: é necessário para nós atravessar o rio.
Mas essa não é uma tradução fiel. Diabateos (atravessar) não é um verbo, é um adjetivo que qualifica potamos (o rio). Perdemos no caminho essa linguagem. A ação de atravessar o rio é uma característica intrínseca ao rio, pertence ao próprio rio. Portanto, é dever e necessidade nossa atravessá-lo. O rio deve ser atravessado porque nós devemos atravessá-lo. Para isso o rio existe, para isso nós existimos.
Perdemos no caminho das línguas essa forma de expressar a vida, mas não a sua experiência. Quem dança sabe com o próprio corpo que a dança existe para ser dançada e é dever e necessidade do dançarino dançá-la. Temos resquícios dessa forma adjetiva em português, a minha preferida é a palavra vagabundo. Vagabundo vem diretamente de uma forma de adjetivo verbal do latim e que também traz a necessidade de movimento. Vagabundo é a característica intrínseca daquele que tem a necessidade de vagar, sair caminhando sem rumo pelo mundo. Assim como o rio deve ser atravessado, o mundo deve ser percorrido.
É por isso que o Tarot começa com um vagabundo dançarino, O Louco, e termina n’O Mundo. Tudo é um rio que deve ser atravessado.
A vida é uma jornada. Não é um destino. É um processo de aprendizado e crescimento. É uma aventura. É uma descoberta. E, como toda jornada, tem seus desafios. Tem seus obstáculos. Tem seus momentos de dúvida e incerteza. Mas também tem seus momentos de alegria e realização. Tem seus momentos de beleza e maravilha.
A vida é um rio que deve ser atravessado. E nós somos os vagabundos dançarinos que estão em sua jornada. Somos os peregrinos que estão em busca de um novo e melhor mundo. Somos os exploradores que estão desbravando novos territórios. Somos os aventureiros que estão em busca de novas experiências. Somos os artistas que estão criando novas obras de arte. Somos os poetas que estão escrevendo novos poemas. Somos os músicos que estão tocando novas músicas. Somos os escritores que estão escrevendo novas histórias. Somos os cientistas que estão fazendo novas descobertas. Somos os filósofos que estão pensando novas ideias. Somos os líderes que estão inspirando outras pessoas. Somos os visionários que estão criando um novo mundo.
Nós somos os vagabundos dançarinos que estão atravessando o rio da vida. E nós estamos aqui para fazer a diferença. Estamos aqui para tornar o mundo um lugar melhor. Estamos aqui para deixar nossa marca na história. Estamos aqui para viver a vida em sua plenitude.
Dancemos! Atravessemos o rio!